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domingo, 2 de outubro de 2011

A Segurança do Paciente nos Diferentes Segmentos da Saúde


A Segurança do Paciente nos Diferentes Segmentos da Saúde

Fonte: Revista NURSING - http://www.nursing.com.br
A enfermeira Marisa Lea Cirelli Sarrubbo, habilitada em Saúde Pública pela Escola Paulista de Medicina e diretora do Serviço de Assessoria em Tecnologia e Gerente de Risco Sanitário da Instituto do Coração do Hospital das Clínicas -FMUSP, discorre sobre a segurança do cliente pautada nos avanços e fragilidades na assistência da saúde no Brasil.
Por: Vanessa Navarro
Nursing - Quais são os fatores comuns aos erros dos profissionais da saúde?
Marisa Lea Cirelli Sarrubbo - O profissionais de saúde erram por falhas no sistema de atenção a saúde; falta de cultura de notificação, devido a falta de aprendizagem; falta de análise dos eventos ocorridos; falta de recursos materiais adequados; sobrecarga dos profissionais; ausência de protocolos e rotinas operacionais implantadas; implantação lenta dos processos; falta de conhecimento técnico e habilidade; não aderência por parte do paciente aos tratamentos propostos. A atuação do profissional de enfermagem é preponderante, pois é o maior grupo profissional de atuação no cuidado direto ao paciente nas instituições de saúde. Os pontos mais importantes na atuação desta equipe são: foco no sistema ao invés de Pessoas; cultura de prevenção e identificação de erros; ações corretivas e construtivas e não punitivas e capacitação da equipe. 
Nursing - Quais os principais eventos adversos relacionados à assistência de enfermagem?
Marisa Lea
Cirelli Sarrubbo - Os principais eventos adversos relacionados à assistência de enfermagem podem ser relacionados à atitude do profissional, aos procedimentos executados e aos fatores ambientais. Podemos apontar como os principais EAs: queda dos pacientes, infecção hospitalar, úlceras de pressão, erros de medicação, manipulação de cateteres, sondas e drenos, manipulação de vias aéreas, utilização incorreta de equipamentos e materiais, ambientes físicos inadequados, proporção de profissionais defasada frente ao número de pacientes e grau de complexidade no atendimento, materiais e uso de equipamentos sem o devido conhecimento, em quantidade insuficiente/obsoletos ou com comprometimento de qualidade.
Nursing - Como os avanços tecnológicos na área da saúde podem interferir na segurança do paciente?
Marisa Lea
Cirelli Sarrubbo - A qualidade do cuidado e a segurança dos pacientes assume papel de relevância. A Organização Mundial da Saúde, por meio da Resolução WHA 55.18, requer que os Estados Membros voltem a sua atenção à segurança dos pacientes, que desenvolvam normas e padrões globais, que promovam um quadro de políticas baseadas em evidências e mecanismos para reconhecer a excelência na segurança do paciente internacionalmente, e que encorajem a pesquisa. Ainda, nesta resolução, informa que o problema não é novo e que, embora os sistemas de saúde difiram de um país para outro, as ameaças à segurança do paciente têm causas e soluções frequentemente similares. Informa também que a situação dos países em desenvolvimento e daqueles em fase de transição econômica merecem atenção particular por vários motivos: qualidade das tecnologias, abastecimento, desempenho ruim de pessoal devido à falta de motivação, habilidades técnicas insuficientes e falta de financiamento dos custos operacionais essenciais dos serviços de saúde. Havendo, portanto, probabilidade dos eventos adversos serem muito maiores em detrimento das nações industrializadas. A incorporação tecnológica é necessária para o controle dos processos e execução de procedimentos assistenciais. A tecnologia deve ser de fácil manejo, apresentar segurança nos procedimentos e garantir a execução das ações corretas, dificultando as ações erradas, facilitando a identificação de respostas e a rastreabilidade das informações, oportunizando uma base de dados para a melhoria contínua dos processos.

Nursing - Que postura o profissional de enfermagem deve ter para amenizar e/ou excluir tais fragilidades?
Marisa Lea
Cirelli Sarrubbo - A erradicação do erro é tarefa complexa, uma vez que “Errar é humano”, todavia, não podemos economizar esforços para manter os níveis de ocorrência de EA próximo de zero, desenvolvendo ações que possam prevê-los e estabelecer medidas para evita-los. As causas dos erros são multifatoriais decorrendo de fatores isolados ou combinados entre si, podendo advir do próprio paciente, dos processos executados ou dos produtos utilizados. Podemos abranger o termo “produtos” incorporando todos os recursos materiais, como medicamentos, produtos descartáveis, equipamentos, estrutura física, etc. O controle e a prevenção do erro deve ter caráter formador e nunca dever ser visto como um processo persecutório. Certamente que não devem ser eliminadas a responsabilidades técnicas, éticas e legais dos envolvidos, porém todas as ocorrências devem ser utilizadas como oportunidades para análise crítica investigativa, revisão dos processos e produtos e tomada de decisões para eliminação ou redução do erro.

Nursing - Quais são os principais fatores que proporcionam o sucesso da atenção à saúde?
Marisa Lea
Cirelli Sarrubbo - A primeira forma de eliminar o erro é desenvolver a cultura da sua prevenção, por meio do conhecimento das circunstancias, dos processos e dos produtos que levam ao erro. Algumas ações básicas para melhoria da segurança:
• utilizar check-lists/protocolos padronizados;
• melhorar a qualidade dos registros em prontuário e os mecanismos de informação;
• padronizar procedimentos e condutas;
• participar de iniciativas de processos de melhoria;
• incluir o paciente e seus familiares na confirmação de dados; 
• desenvolver uma cultura de segurança.
A adoção das Metas Internacionais para Segurança do Paciente podem ser também uma das estratégias implantadas pela instituição para o sucesso do programa de Segurança do paciente. São elas:

- identificar os pacientes corretamente;
- melhorar a comunicação efetiva (prescrições/exames diagnósticos);
- melhorar a segurança para medicamentos de risco;
- eliminar cirurgias em membros ou pacientes errados;
- reduzir o risco de adquirir infecções;
- reduzir o risco de lesões decorrentes de quedas.

Nursing - Qual é a contribuição dos programas de acreditação em relação a redução dos eventos adversos?
Marisa Lea
Cirelli Sarrubbo - Acreditamos que os fatores organizacionais afetam a segurança do paciente. Dois mecanismos adquirem importância como catalisadores da segurança do paciente na atualidade: a acreditação e a regulação pública. Ambos se dirigem primordialmente à forma como os cuidados devem ser prestados aos pacientes nas organizações de saúde. A acreditação, como uma avaliação externa baseada em padrões previamente estabelecidos e com caráter voluntário; enquanto a regulação, como um instrumento de exigência governamental com força compulsória.
Presume-se que as organizações de saúde com certificado de
acreditação sejam mais seguras, ou que pelo menos, encontram-se mais preparadas para identificar, com maior presteza, falhas e incidentes e, deste modo, abordarem estes eventos de forma produtiva. 

Podemos apontar como benefícios dos programas de
acreditação em relação a redução dos eventos adversos: segurança para os pacientes, familiares e público em geral; sistematização das atividades da assistência; serviços prestados de maneira confiável, a partir de um padrão de qualidade previsível e homogêneo; caminho para a melhoria contínua; uso de ferramentas da qualidade universalmente aceitas e recomendadas; construção, adequação e padronização de processos; monitoramento assistencial e administrativo; sistematização e aprimoramento do cuidado; melhoria das informações compartilhadas, dos registros, da qualificação do corpo de colaboradores, do relacionamento com as diversas equipes no cuidado do paciente e na gestão do ambiente; comprometimento do paciente e familiares na assistência; implantação da cultura da qualidade. 

Nursing - Qual é a funcionalidade do projeto Hospitais Sentinela, criado pela Anvisa no ano de 2000?
Marisa Lea
Cirelli Sarrubbo - O “Projeto Hospitais Sentinela” é uma iniciativa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), onde estão instaladas as Gerências de Risco sanitário Hospitalar, que visa manter uma rede de informações sobre os materiais médico hospitalares, medicamentos, sangue e seus componentes e os saneantes utilizados, entre os hospitais que compõe a rede no território brasileiro. O objetivo principal é garantir a segurança na utilização dos produtos, manter e promover a qualidade dos mesmos, por meio da formação de uma rede de informações que se cruzam e se auto alimentam, de forma padronizada e sistematizada. A “Gerência de Risco Sanitário Hospitalar” é um grupo de profissionais que realiza o acompanhamento destes materiais utilizados nos hospitais, no período de “pós-comercialização”, ou seja, como se comportam os materiais já adquiridos na sua utilização diária no hospital. Basicamente, são os seguintes grupos de produtos para a saúde: medicamentos, equipamentos médicos, materiais e artigos descartáveis, implantáveis e de apoio médico hospitalar, kits e reagentes de laboratórios, produtos saneantes de uso hospitalar, sangue e seus componentes.

Nursing - Quais são os efeitos produtivos proporcionados por tal programa?
Marisa Lea
Cirelli Sarrubbo - A rede sentinela reúne a excelência em assistência, ensino e a pesquisa no país sendo importante observatório para práticas e tecnologias em saúde. O projeto incentiva o aprendizado por meio da troca de experiências, fomentando transformações pró-segurança do paciente e profissionais da saúde, no processo de trabalho e utilização de tecnologias em hospitais. Podemos apontar como resultados obtidos deste projeto: implantação de gerências de risco; notificações de eventos adversos e queixas técnicas no sistema NOTEVISA, em rede nacional com a ANVISA e tidos os participantes da rede, além das VISAS municipais e estaduais; formação de grupos de trabalho em áreas novas/críticas; propostas para reformulação de regulamentos e normas institucionais; medidas sanitárias geradas a partir das notificações da rede; implantação e acompanhamento de planos de melhoria em áreas estratégicas nos hospitais; incentivo à pesquisa em serviços da rede; planejamento estratégico; reforço e articulação de áreas de apoio à assistência; aquisições mais racionais; qualificação do atendimento dos fornecedores às queixas do hospital quanto à qualidade de produtos; integração à rede de hospitais sentinela; aporte de notificações para a regularização de mercado, estatísticas e indicadores; aumento do controle da qualidade dos produtos para a saúde comercializados no mercado nacional; campo de observação para reforço de sinal de eventos adversos com produtos; revisão e criação de legislações específicas; construção de fluxos e de rotinas de trabalho nos órgãos reguladores e regulados, entre áreas de registro, pós-comercialização e fiscalização de produtos e empresas; campo de estudo para avaliação de novas tecnologias em saúde; e visão ampliada de risco que inclui o usuário.